Construtoras estão transformando locais de obra em plataformas de beleza, cultura e acolhimento
Longe de atuarem apenas como barreiras, essas intervenções vêm mudando a forma como o espaço público se conecta às frentes de trabalho. Presentes em cidades como Curitiba e Rio de Janeiro, elas unem comunicação visual, identidade de marca e função social, transformando terrenos isolados em verdadeiras plataformas de gentileza urbana.
Em parceria com a incorporadora curitibana GT Building, pioneira na execução desses projetos no Paraná, a iniciativa já renovou importantes pontos da malha urbana com criações como os painéis do Casa Jobim, e Lange,Turin, que se destacam não só pela estética, mas também pelo papel social, ambiental e de comunicação. “O tapume tradicional é impessoal; já o painel urbano é uma gentileza. Ele se apropria do espaço da obra, mas também é um presente para todos. É possível usar a arquitetura efêmera do canteiro como uma ponte entre o que está por vir e o que a comunidade precisa agora: beleza, acolhimento e diálogo”, afirma o arquiteto, urbanista e sócio fundador da Urbideias, Richard Viana.
De barreira a convite: o que é um painel urbano
Tradicionalmente, os tapumes servem para isolar as construções — e, com elas, o incômodo, o ruído, a poeira e a poluição visual. As estruturas criativas, porém, invertem essa lógica. Como uma gentileza urbana, elas propõem um resultado mais humanizado entre a obra e o espaço público.
O painel urbano é, ao mesmo tempo, proteção e acolhimento, publicidade e arte, infraestrutura e interação, institucionalidade e experiência sensorial. Produzidos com uma variedade de materiais — como madeira, metal, policarbonato e até recursos mais inovadores, como hologramas e painéis de LED interativos —, esses elementos podem acompanhar a duração de todas as etapas de execução, que muitas vezes se estende por anos, mas sua função vai muito além da simples proteção do canteiro. Com diferentes níveis de complexidade, que vão da comunicação visual a dimensões tridimensionais e estímulos sensoriais, eles criam uma conexão emocional entre a marca e a população, transformando o entorno da construção em um espaço vivo, criativo e convidativo.
Impacto estético e emocional
“Imagine passar por uma obra que, em vez de um muro cinza e impessoal, oferece sombra, bancos, paisagismo nativo, arte e até música. O painel urbano atua como antídoto ao estresse urbano e à poluição visual. E há um reflexo imediato: os níveis de vandalismo neste tipo de instalação são baixíssimos, em contraste com os tapumes comuns”, complementa Richard.
No empreendimento Lange,Turin, por exemplo, o projeto incorporou bancos, totens educativos e espécies nativas da Serra da Graciosa como paisagismo, promovendo educação ambiental. Além disso, o painel também abriu espaço para revelar os bastidores do processo construtivo, utilizando ripados que revelam o processo construtivo e humanizam a intervenção.
Casa Jobim: a obra que virou praça e experiência sensorial
Talvez o melhor exemplo do potencial desse conceito seja o Casa Jobim, empreendimento que recriou a atmosfera da bossa nova e do Rio de Janeiro em plena fase de execução. O painel foi recuado, ocupando parte do terreno privado para dar lugar a uma praça pública sensorial, com piso em petit-pavê, paisagismo tropical exuberante, sistema de som ambiente que toca Wave, de Tom Jobim, e um telão de LED de 4x3,5 metros que exibe conteúdos visuais.
O espaço ganhou ainda ativações culturais, como a distribuição de chá mate e biscoito Globo, criando um ambiente acolhedor e repleto de identidade. “A ideia é clara: se o painel já oferece uma experiência, imagine como será o prédio. A percepção pública da marca começa no entorno da construção, e os painéis reforçam o compromisso da incorporadora com a comunidade, o design e a qualidade de vida”, explica o arquiteto.
Mais do que vender um imóvel, criar uma vivência urbana
Para a Urbideias e a GT Building, o painel urbano não é só um produto, mas também uma nova linguagem — uma forma de transformar projetos em plataformas verticais de gentileza e beleza, que enriquecem a cidade mesmo antes mesmo da entrega do edifício. “Não queremos apenas vender um imóvel; queremos mostrar como é possível viver melhor o espaço coletivo, mesmo em meio às transformações pelas quais ele precisa passar”, complementa.
Com o avanço do conceito e o fortalecimento de um novo mercado no Brasil, essas soluções apontam para um futuro em que nenhuma intervenção precise ser uma cicatriz na paisagem. Ao contrário: podem marcar o início de um novo capítulo de convivência, diálogo e beleza compartilhada.
Fotografia: Nilton Russo.
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